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O ensino da medicina no Brasil – não basta uma prova final

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ACM indica a leitura do importante artigo, que tem como fonte a revista Veja, para a reflexão do médico e da população catarinense.

A formação de um médico começa com a educação básica e com princípios. Entretanto, esses critérios não são considerados no modelo de educação atual

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É atual a discussão sobre o ensino médico no Brasil. Nosso país, com uma população de 207 milhões de habitantes, é hoje o segundo do mundo em número de Faculdades de Medicina, com 307 escolas, sendo destas, 179 privadas, 16 municipais, 77 federais e 35 estaduais. A primeira criada foi a Universidade Federal da Bahia, em 18 de fevereiro de 1808. A mais recente, foi inaugurada em 08 de fevereiro de 2018, em Pernambuco. Apenas em 2017, 27 novas escolas médicas surgiram no Brasil. Enquanto isso, países desenvolvidos como os Estados Unidos, com uma população de 317 milhões de habitantes tem 147 escolas médicas, e a China, com uma população de 1.354.040.000 tem 150 escolas.

O número de faculdades de medicina no Brasil aparenta ser desproporcionalmente elevado, e tem sido analisado como um dos fatores responsáveis pela formação de baixa qualidade do médico. Portanto, recentemente, em especial no último ano, as sociedades médicas e os conselhos de medicina vêm de maneira genuína lutando para aprovar na qualidade de exame obrigatório uma avaliação ao final do curso, com o objetivo de liberar para a prática da medicina apenas aqueles que conseguirem demonstrar habilidade por meio do alcance de nota pré-especificada no teste. Uma prova teórica para avaliar competência técnica, habilidade e comprometimento com o paciente seria fantástica, porém, até o momento, tem se mostrado um instrumento ineficaz. A formação de um médico começa com a educação básica, com os princípios da moralidade, honestidade, com a prática da doação e do comprometimento.

Como funciona fora do Brasil?
Países desenvolvidos avaliam o candidato de uma maneira bastante rigorosa desde sua entrada na faculdade de medicina, levando em consideração sua biografia, seu envolvimento com artes, sua relação com a natureza, além de seu desempenho no ensino médio. No Brasil, na maioria dos casos, cada instituição de ensino realiza o vestibular à sua maneira, e é notório que as faculdades privadas, com as mais altas mensalidades habitualmente realizam os exames menos complexos. Assim, são atraídos para os cursos alunos com formação deficiente, muitas vezes com valores também aquém dos exigidos para a profissão.

Além disso, durante a graduação, muitas faculdades, aprovadas pelo Ministério da Educação, sofrem da falta de padronização do ensino, da ausência de hospitais escola, da deficiência qualitativa do corpo docente e da falta de supervisão adequada. O produto, que é o médico, forma-se tendo assistido aulas teóricas, tendo recebido instruções à distância e tendo acompanhado muitas vezes seus professores em sua atividade privada.

O que a sociedade recebe é um profissional sem qualificação adequada, sem o entendimento do que é o ser humano, sem o conhecimento das patologias, que não sabe propedêutica e muito menos terapêutica. E então, conforme o proposto por alguns setores da sociedade, esses médicos farão o exame teórico ao final do curso.

Já podemos antecipar um resultado – nos dois primeiros anos, a taxa de reprovação será alta, e na sequência, vários cursos de fim-de-semana surgirão, professores especialistas na prova virão para o mercado, e em três ou quatro anos, a taxa de aprovação estará perto dos 100%. Será que isso protegeria a sociedade da ineficiência dos novos médicos? A resposta provavelmente é não. E o que faríamos com os graduados que não passarem no teste? Seriam seis anos de investimento de tempo e financeiro para retorno zero ao povo? Por isso, no meu entendimento, as ações para garantir uma boa formação médica precedem o final da graduação e devem ser entendidas como um conjunto de medidas, assim listadas:
Padronização da prova teórica do vestibular – o Ministério da Educação regulamentaria os princípios da prova, ou seja, haveria uma uniformidade das habilidades requeridas.
Entrevista no vestibular – haveria uma entrevista, nos moldes das escolas americanas, avaliando intenções, habilidades práticas, relação do aluno com artes, conhecimento geral, cognição, natureza, sociologia, dentre outras.

Rigidez técnica do Ministério da Educação no credenciamento e na aprovação de novos cursos além de revisão dos já credenciados – equipes periodicamente avaliariam o cumprimento das regras, por exemplo em recorrência anual. Avaliação deveria incluir infraestrutura, qualificação do corpo docente, qualidade do hospital escola (exigência para todas as instituições), parcerias nacionais e internacionalização do curso (vínculo com outras instituições nacionais e externas), modernização do ensino (ensino à distância, qualidade das aulas, ferramentas de aprendizado, avaliações, ensino prático) e supervisão dos anos clínicos.

Supervisão da prática médica – os anos de internato médico devem ser supervisionados quanto à eficiência do atendimento, com o cumprimento de regras similares a todos os cursos.
Acesso garantido à residência – os órgãos responsáveis devem garantir acesso à residência a todos os alunos de medicina. Novas vagas de graduação só seriam abertas na medida em que novas vagas de residência surgissem.

Parcerias público-privadas – cada estado ou município faria uma espécie de união das instituições para analisar as necessidades regionais da saúde, as caraterísticas populacionais, e seriam estimuladas a inserção de práticas de ensino visando adequação à sociedade local além de parcerias para otimizar recursos de ensino e de infraestrutura.
Política de interiorização da medicina deve ser desenvolvida – a distribuição dos médicos pelo país é muito desigual tanto entre as unidades da federação quanto em relação a capitais e interior do país. A região Sudeste, por exemplo, concentra mais da metade dos médicos do país, enquanto a região Norte tem apenas 4,4% desse total, seguida pelo Centro-Oeste, com 7,9%. Os médicos trabalham onde há estrutura para atendimento de qualidade – para isso, o governo deve investir nos estados mais deficientes para tornar o ambiente propício ao exercício da medicina.

Inserção da Universidade nas políticas de saúde – o envolvimento direto da Universidade nas políticas de saúde traz benefícios incontestes ao ensino médico e à saúde de uma população. Resulta na vivência da saúde do povo pelo órgão educador, no entendimento de custo-efetividade, e em última instância, na entrega à sociedade de muito mais benefícios e eficiência da medicina.

Assim, não é o número de instituições de ensino o grande vilão. Muito menos é uma prova ao final o instrumento capaz de mensurar qualidade e de oferecer à população o que ela merece. A sociedade civil, aliada ao governo, aos órgãos da educação, às sociedades médicas e aos conselhos, deve buscar reformular o ensino médico a fim de melhorar a qualidade do nosso médico.
A medicina em sua essência, visa o bem-estar do povo, promove saúde, com eficiência e responsabilidade. Nós médicos, atuamos em benefício do povo, e ao nos envolver nessa questão, estaremos de uma maneira única agindo para mudar nossa sociedade para melhor, gerando saúde e vida de qualidade.

Fonte: Revista Veja

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